Correspondências

280411
Linhas traçadas com a vontade de tê-los, amigos que o receberam, na preparação do caminhar e nos passos que virão...

Este pretende ser o início de um contrastar que quer compartrilhar que começam a se trilhar na busca por uma Terra do Nunca onde se possa desfrutar dos frutos da terra de Pé no Chão, Circo e Pão em qualquer estação. O prelúdio lúdico desse passos (iniciados inconscientemente há muito) será musicado por uma estreita trilha, no dia 07 de maio no Parque Ramiro Ruediger, na Provincia de Blumenau, n'uma cerimônia sem relógio (guiada pelo nascer e pôr do sol e, também por uma crescente lua nova) com pão e poesia lançando ao acaso do tempo na rua em praça pública, palavras d'outrora - quando éramos só - que unidas numa quina entre tantas dobradura que frisam as dobras do mundo (revelando os quase possíveis desencontros) se encontram e perdem as palavras e em linhas desenhadas ganham forma - símbolo que denúncia que somos tripédedois. 

E, é nesse conjugação completa - acompanhada - que lhe convidamos a fazer parte desse momento, na espectativa de que se fores, serás (como queremos e se quiserdes) um dos lugares com o qual nos corresponderemos na viagem prevista para o mês de agosto. 
  Até breve,
Nós.

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Aos Inomeaveis
Existem duas ou três coisas que por não dizer antes, tento dizer agora - principalmente por saber que não serão ditas mesmo que eu repita...

"é bonita e é bonita"
A primeira é: 
- não enumerem as coisas, não separem e não limitem as infinitas possibilidades do mundo. o mundo que é você, por onde você passa, o que passa por você, os seus pensamentos - enquanto dorme, come, caminha, faz teatro abraça alguém com amor.

Dizia... infinitas possibilidades do mundo, que é a garota de preto que passa apressada por você (a caminho de casa) sem perceber - por não ter consciência ou tempo para ter consciência - que quando os trajetos se cruzam são dois mundos que vivem (entre a vontade e o vir a ser) em ruas de um mundo de outros (com vontade de ser, o dono do mundo - da maior parte das pessoas e suas bolsas e vontades que temem o vir a ser) resvalando num mundo que no fim é uma: 

"...pedra que flutua"

pode ter sido Galilei que disse isso mas ouvi essas palavras de um títere do titiretero de Banfield que fuma cigarros de filtro vermelho.

...no fim?

Certa vez, Abraão e eu, nos deparamos com a pergunta:

Ser borboleta é finalidade existencial de uma lagarta?

E descobrimos (leiam com atenção): que pergunta maravilhosa! Tão maravilhosa que uma resposta ceifaria dela as cores das folhas que alimentaram a existência dela: a lagarta e, da existência da borboleta - que bem verdade, nem sabemos se tem consciência de ter sido uma lagarta...

Eu disse: não enumerem as coisas. Eu digo, segundo: não neguem;  a consciência de quantos dedos, amigos e desejos vocês têm mas, que a consciência não os faça teorizar o controle sobre eles. Vocês não tem. E, querer ter é abrir mão (cheia de dedos) de que estes (que estão sob tuas vistas) possam ser infinitos... pensem num mudos de infinitos dedos, infinitos amigos - de vidas finitas - e, pensariam num mundo de desejos incondicionais e um mundo assim seria absoluto; no qual muito não nos bastaria e tudo seria necessidade do dia a dia... mas não será se no pensamento e em teorias; ele só seria.
Lembro-me de ter lhes ditos, por ter ouvido o Paulo repetir:

Uma verdade é três, a minha, a sua e ela mesma. 

Saber isso implica entender que o mundo (o meu, o seu, o da garota de preto, do títere e do titiretero, do Galileu e ele mesmo) não é se não o trânsito de vontades e ações. Um trânsito sem vias de mão única, regras seguras para caminhos projetados para serem plenos... 

Há alguns anos encontrei-me na quina do mundo sem fim. Vi um mar de terra rodeando meu corpo inundado pela sensação de insegurança por não avistar - por milhas e milhas - o que eu chamava de ilha de civilização, ouvi histórias de homens que passaram a vida inteira montado em seus cavalos peregrinando no sertão guiando-se pelas estrelas e árvores da estação que diziam-se homens de livre visão, longe das ruas, prédios e televisão da cidade de onde eu vinha, pois eles me diziam que cidades eram todas iguais, com homens de roupas, rotinas e sonos iguais (e eu, que tinha um milhão de certezas civilizadas, que quando via uma floresta enxergava um coletivo de iguais e quando olhava para o céu via corpos celestes e astros da via láctea, tive de desaprender todos os nomes que me prendiam...)

E, então eu vivi num mundo novo sem nomes e teorias, sem estradas para me dizer em que sentido seguir sentindo ir num caminho com coração onde às vezes o corpo transborda...

e agora, estou sentada nas escadas
sob o papel uma gaita, 
danço a existência sem palavras, 
perto de vocês...

e eu os amo
mesmo que essa seja uma palavra banalizada 
(tento reconciliá-la com seu significado)

por fazer com vocês o que eu amo e não pode ser diferente...

Rafaela 
viajante acompanhada,
sul do mundo - quase primavera...

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Iluminado Kaio,

Te escrevo sob uma atmosfera suave com alguns vôos fragmentados e densos (e telefonemas  de cidadãos descontes com a vida na vila que ligam, para falar com a vereadora Neusa - que é mãe vivendo entre as caixas de mudança da filha -  que sonha acompanhada -, e as malas de passeio da mãe - que é vó de neta que não sonha só...)... há nesse vôo alguns relógios pairando, outros já sem número e forma, os parados ponteiros que latem o tempo do mundo cão... há nesse vento sementes em ares quase repousantes, que são semi-ares de inspiração e impulso. pulsante.
A poesia transborda na vista que vislumbra os dias que virão,  enquanto isto uma lista escrita até as bordas transcrevem as vistas passadas que nos deixam os olhos cansados enquanto adormecem - para outras visitas - na confecção do que outrora foi sonhado. Compõem esta lista toda sorte de notas, rodapés e molduras. Uma linda vitrola em madeira desenhada pelos ouvidos que ouvem a canção que nela será som, imagem, forma e palavra (em relação). Os planos estão sujeitos ao vento desta estação desconhecida - de dias chuvosos, frios e cinzas - que é mistura de  necessidade, ansiedade e partida. Depois da tentativa frustrada de tentar dominar o tempo decidimos nos jogar ao caos das emergências desse estado imposto por essa estação. Nãos somos urbanos e não queremos ser, e por isso a fragmentação de espaço, tempo e pensamento não nos alimenta com as forças que precisamos para bem fazer as coisas que devem ser feitas de bem.
Na semana passada, fomos ao centro da Província, compramos uma porção variada de materiais que precisávamos para materializar nossa obra compartilhada, pregos, madeiras e dobradiças... e iniciamos a confecção do cenário do pequeno a partir de desenhos com medidas e mecanismos (um mundo novo se apresenta para nós que fizemos apenas miniaturas...). Abraão começou a relacionar-se então com a matéria que dará forma aos desenhos e dessa relação começaram a brotas os detalhes que serão esta grafia, pauta de outras línguas já escritas e impressas noutros detalhes grafados no mais importante deste nosso Destino escolhido: a vontade pela liberdade poética de ser  - artista que não passa vontade.
É maravilhoso nesse momento de nossas vidas poder partilhar e lançar ao ar sementes que sabemos também voarão e serão lindos e doces frutos floridos que, hão de se encontrar, não talvez com os corpos no mesmo tempo e espaço (apesar de ser viva esta vontade) mas além deles. Há algum espaço de tempo encontrei-me num sem-espaço e num sem-tempo com uma mulher de nome Maria Auxiliadora, ela me contou sua história e para contá-la disse-me coisas tão profundas que levaram por um caminho que dava na beira de um abismo profundo e, naturalmente as palavras - ditas nestas circunstâncias - ficaram ecoando no ar que inflama minha existência completa - por isso quando existe novamente um momento sem-tempo e sem-espaço, como agora, compartilho aquelas palavras, com sotaque nordestino - já que veio ela de uma cidadezinha do sertão de nome: Escada - que agora são estas: quando o que tu fazes é amor e entrega sincera de todo o teu ser o que resulta dessa ação é tão forte que nem a morte pode parar.

Quando trabalhamos na Trilogia Destinos, nos sentimos assim, fortes em nossa entrega e sentimos que essa força é alimento vigoroso para nossa decisão que no leva a essa vida que escolhemos viver. Por isso não podemos mais nos fragmentar para fazer isso e decidimos fazer isso já sendo parte desses novos dias que hão de emergir na poeira da estrada... é claro que para isso precisamos terminar algumas coisas  que de fato impendem  de nos entregar a queda livre e, para isso precisamos lidar com coisas que destroem a poesia dos dias, como o dinheiro e a burocracia. 

Ah! Estas palavras era o ar que precisava respirar tranqüila, sabendo que tu estás por perto ciente de que não estamos com as cabeças em nuvens que não os nossos sonhos... é com essa tranqüilidade que te encaminharei um e-mail, nem tão poético sobre a visão do ponto que estamos agora prestes a saltar no nosso abismos de nome; Destinos. E depois dessa visita a esse momento de muito memento iniciarei a visitação ao Luz.
Até breve,
um longo e demorado abraço de tirar os pés do chão...
Rafa e Abraão (entre a serra, a madeira e as palavras)
 
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